Martinho Lutero, O Pregador e Reformador
MARTINHO LUTERO, O PREGADOR E REFORMADOR
Quando tinha apenas um ano, a família se mudou para Mansfield, atual Alemanha. Seu pai, cuja profissão era minerador, sonhava com uma brilhante carreira jurídica para o filho. Aos 14 anos, ele ingressou numa escola de latim e, ao completar 18, entrou para a Universidade de Erfurt.
No intervalo das aulas tocava alaúde, e seus colegas o apelidaram de O Filósofo. Ali, além de aprender gramática, lógica, metafísica e música, o jovem acadêmico teve contato com a obra do pensador escolástico Gabriel Biel, que defendia a ideia de que Deus não negaria Sua graça àqueles que fizessem tudo ao seu alcance para se santificarem. No entanto, um fato marcante vai dar novo rumo à sua vida.
Na manhã de 17 de julho de 1505, enquanto ia a pé da casa de seus pais para a Universidade, foi surpreendido por uma terrível tempestade. Um colega que o acompanhava foi atingido por um raio e morreu na hora. Nesse momento, foi tomado por pavor e angústia provocados pela certeza de que, se morresse naquele momento, estaria perdido. Aterrorizado, gritou: “Ajuda-me, Sant’Ana! Eu me tornarei um monge!”.
Lutero abandonou a carreira jurídica, para tristeza de seu pai e horror dos seus colegas de estudos. Vendeu todos os livros e ingressou numa ordem monástica agostiniana para dedicar sua vida à Igreja. Ele tinha apenas 22 anos. Ao relembrar aquela época, disse que “se algum monge merecesse o céu por seus esforços, certamente seria eu”.
O Reformador
Seu superior na ordem agostiniana, Johann Von Staupitz, aconselhou-o a seguir a carreira de pregador e fazer doutorado em Teologia. Ele abandonou o método alegórico de interpretação das Escrituras, adotado pela Igreja Católica, e começou a interpretá-las de forma literal.
Enquanto estudava a Bíblia, outro raio veio do Céu, só que dessa vez foi certeiro. Era Romanos 1:17, “Porque no evangelho é revelada a justiça de Deus, uma justiça que do princípio ao fim é pela fé, como está escrito: ‘O justo viverá pela fé’.”
Como líder da igreja do castelo em Wittenberg, começou a pregar a nova fé que havia descoberto pelos seus estudos bíblicos. Naquela mesma época, o monge dominicano Johann Tetzel, com autorização do papa Leão X, começou a vender indulgências a fim de arrecadar fundos para a construção da Catedral de São Pedro, em Roma.
Lutero ficou chocado com essa oferta e se opôs a tal prática. Para contestá-la, fixou na porta do castelo as suas famosas Noventa e Cinco Teses. Era o dia 31 de outubro de 1517. Como era véspera do Dia de Todos os Santos, as igrejas estavam abarrotadas de fiéis. Ele enviou cópias das suas contestações para os seus superiores eclesiásticos na Alemanha. Suas teses foram traduzidas do latim para o alemão, holandês e espanhol.
Logo, toda a Europa culta passou a conhecer o pensamento do jovem monge. Começou, ali, a batalha que deu origem ao movimento mais importante da história da igreja desde os dias do Pentecostes.
Os eventos se sucederam com rapidez. Em 1518, o príncipe eleitor da Saxônia, Frederico deu apoio público às ideias do reformador. No ano seguinte, ele participou de um debate em Leipzig, contra o campeão da Igreja, Johann Eck. No dia 10 de dezembro de 1520, queimou a bula papal que o ameaçava de excomunhão perante grande plateia. No princípio de 1520, Lutero foi convocado diante da dieta de Worms para defender seus ensinos. Após dois dias de debates, afirmou: “A não ser que alguém me convença pelo testemunho da Escritura Sagrada ou com razões decisivas, não posso retratar-me”.
A Igreja não precisava de mais nada para justificar sua ação. Ele foi excomungado e considerado um fora-da-lei. Para salvar a vida de Lutero, o príncipe Frederico simulou seu sequestro e o escondeu no castelo de Wartburg, perto de Eisenhach.
Ele aproveitou o tempo do exílio para realizar a tradução do Novo Testamento grego para o alemão, trabalho que completou em três meses. Essa obra se tornou o primeiro best-seller da história. Apesar do preço elevado, um florim e meio, a primeira edição, com cinco mil exemplares, se esgotou em três meses. Foram vendidos cem mil exemplares em três anos.
Em dez anos, a obra chegou a 58 edições. Ele concluiu a tradução da Bíblia toda 12 anos depois. Esse trabalho também teve impacto sobre a cultura germânica, pois ajudou a estruturar o idioma alemão moderno, da mesma forma que a obra Dom Quixote, de Miguel de Cervantes, fez com o espanhol, Os Lusíadas, de Luiz de Camões, com o português, e a Divina Comédia, de Dante Alighieri, com o italiano.
O Pregador
É difícil medir o impacto da obra de Lutero sobre o cristianismo. Além de redescobrir o Evangelho da Graça, o grande Reformador ensinou o povo a adorar a Deus e ler a Bíblia sem a necessidade de intérpretes humanos.
Como grande músico, compôs hinos que são cantados até hoje, pois implantou o costume do louvor congregacional, quando todos os assistentes da reunião cantam juntos. Antes dele, o sermão ocupava um lugar secundário no culto, e o púlpito era colocado no canto da plataforma. Ele tornou a pregação a principal parte do culto na igreja.
Apesar de seus múltiplos talentos, Lutero se destacou mais como escritor e orador. É dito que seus escritos eram apreciados até pelo papa. Contudo, foi como expositor que sua obra teve maior impacto. Ele tinha a fama de ser o melhor pregador de seu tempo. Era eloquente, apesar de não lançar mão de nenhum recurso retórico ou estilístico comum àquela época. Suas mensagens brotavam do coração.
O povo sentia a presença de Deus quando ele falava, pois discursava com simplicidade, de um modo que até os incultos entendiam. Quando um jovem pregador lhe pediu alguns conselhos sobre o melhor modo de falar perante um monarca, ele disse: “Não fale para o príncipe, mas como se estivesse falando ao homem mais simples, mais rude do seu auditório. Se eu pregasse para Melâncton [conhecido pela vasta cultura], não falaria nada que preste; mas falando para a cabeça menos sábia da assistência, faço com que cada um ache o que recolher no que digo. [...] O pregador não se deve inspirar senão no que lhe vem do alto, e procurá-lo na prece. Quanto a mim, [...] sinto-me sempre preso de temor quanto vou pregar; pois isso não é obra humana.”
Suas mensagens eram tão impactantes porque alimentava profundo amor pelas Escrituras. Numa mensagem escrita de Wartburg ao seu povo em Wittenberg, disse: “Jamais em todo o mundo se escreveu um livro mais fácil de compreender do que a Bíblia. Comparada aos outros livros, é como o Sol em contraste com todas as demais luzes. [...] Se vos afastardes dela por um momento, tudo estará perdido; podem levar-vos para onde que desejem. Se permanecerdes com as Escrituras, sereis vitoriosos.”
Quando mergulhava no estudo da Bíblia, esquecia-se até mesmo de comer. Ao preparar um comentário sobre o Salmo 23, passou três dias no seu quarto a pão e água. Sua esposa ficou tão preocupada que mandou chamar um serralheiro para abrir a fechadura. Apesar de toda a agitação, continuou escrevendo como se nada tivesse acontecido.
Lutero morreu de um ataque cardíaco em 18 de fevereiro de 1546, em sua cidade natal, Eisleben. Suas últimas palavras, rabiscadas num pedaço de papel, foram: “Somos mendigos. Essa é a verdade”. Ele foi sepultado na Igreja do castelo de Wittenberg, onde três décadas antes havia pregado o evangelho da graça de Deus. Seu grande amigo Felipe Melâncton foi o responsável pelo serviço fúnebre. A vela da sua existência se apagou, mas a influência de sua obra continua a nos atingir até hoje.
Sobre Lutero, Ellen G. White comentou: “Zeloso, ardente e dedicado, não conhecendo outro temor senão o de Deus, e não reconhecendo outro fundamento para a fé religiosa além das Escrituras Sagradas, Lutero foi o homem para o seu tempo; por meio dele Deus efetuou uma grande obra para a reforma da igreja e esclarecimento do mundo”.
Que Deus desperte mais reformadores como Lutero em nossos dias!
Compilado do Observador da Verdade, 2019
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Deus o abençoe.